quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Onde está a paz deste lugar?

Onde está a paz deste lugar?

Não sei por que as pessoas acham que branco traz sensação de paz. Não sei lá fora, mas aqui não tem nada de paz... aqui as roupas são brancas, as paredes são brancas, os sapatos são brancos, os talheres, os pratos, os lençóis, os moveis, o teto... tudo é branco. Tão branco que chega a doer nos olhos. Desde que vim parar aqui, me pergunto “onde está a paz deste lugar?”.

Certo dia, encontrei minha esposa com outro. Foi aí, onde tudo começou. Imagina você, ser casado com uma mulher, a dos seus sonhos. Três anos, cinco meses e onze dias de casados. Um belo dia, você chega em casa mais cedo que o normal, depois de um dia árduo de trabalho e se depara com a seguinte cena: roupas no chão, sua esposa nua, deitada com outro cara, também nu, no sofá que na noite passada vocês dois fizeram sexo.

No primeiro momento, senti algo que eu nunca tinha sentido. Talvez tenha sido raiva e tristeza misturadas uma na outra, formando ódio. No segundo momento, senti vontade de matá-los ali mesmo. No terceiro momento, saí de casa, e fiquei esperando no carro, a hora que aquele cara iria sair da minha casa... que mulher canalha... esses três momentos se passaram em cerca de dez segundos. Dez segundos foi o tempo suficiente pra eu decidir o que faria.

Dentro do carro, no lado oposto da rua, vi quando ele saiu da minha casa. No exato momento, eu fui até a mala do meu carro e peguei um garrafão com gasolina... fui até minha casa e a vi, ainda nua, subindo as escadas. Foi então que abri aquele garrafão e joguei a gasolina toda em cima dela. Ela ficou assustada, me perguntou o que eu iria fazer.
Então eu disse “vou matar você, sua vagabunda”... e a encostei contra a parede, apertando o pescoço dela. A joguei no chão e acendi o isqueiro que estava em meu bolso.

Fiquei ali, vendo ela queimar, se debater, pedir socorro. Até que o vizinho ouviu os gritos da desgraçada e então chamou a policia. Fui primeiramente analisado psicologicamente, e constataram que eu era algum tipo de psicopata. O que me fez rir. Quem não tentaria matar a esposa diante de uma situação dessas? E por que eu sou psicopata? Só por que sentei pra ver aquele desfecho?

Desde o dia em que vim parar aqui, me faço a mesma pergunta “onde está a paz deste lugar?”, e sempre que penso nisso, penso também em queimar tudo aqui. Pena que aqui não tem gasolina.

Karine S.

O padre


O Padre

Estou dentro do meu carro em um parque da cidade, já passa da meia noite, a iluminação não é boa, mas há sempre casais de jovens procurando diversão, e isso é ótimo para o meu plano.

Sei disso porque sou o padre de uma cidadezinha e isso vai me ajudar muito. Vou falar qual é o meu plano, mas antes, vou contar o porquê dele.

Depois de dez anos ouvindo as confissões, percebi o quanto os jovens fazem sexo antes do casamento e os adultos vem desrespeitando o casamento, a fornicação é algo comum por aqui. Mas algo em mim despertou, depois de uma vida desprezível, decidi fazer algo a respeito para colocar um fim nisso. Sei que posso ser mal compreendido por muitas pessoas, mas apenas irei fazer o que é certo.

O parque está silencioso, não demora muito até eu avistar um casal de jovens, o cara deve ter uns 18 anos, a garota parece ser mais nova, deve ter por volta de 16 anos, não deveria andar em um lugar desses em uma hora dessas, e principalmente, não deveria fazer o que veio fazer, por isso, ela será punida.

Escondo-me nas sombras e observo o casal, a garota parece ser tímida, mas aos poucos vai se soltando. Os jovens parecem se amar. Começam a se despir. A voz em minha cabeça diz que isso é errado e por isso devem ser punidos. Olho se há mais alguém no parque, mas não há, podemos começar.

Minutos depois, os gemidos da garota ecoam pelo local, eu sinto que está na hora de agir e é isso o que faço. Pego meu machado e vou de encontro ao casal, estão tão concentrados que só percebem a minha presença quando estou ao lado deles, eles me olham assustados, os olhos cheios de medo e vergonha, estão surpresos, sabem que estão pecando. Antes mesmo que possam abrir a boca para falar algo, levanto o machado e invisto contra o garoto, a cabeça dele rola ao lado da garota, que começa a gritar desesperadamente, o sangue jorra do (que restou do) pescoço do garoto e mela boa parte do corpo nu da garota. Ela empurra o corpo de seu amado, se vira e tenta se arrastar para longe, mas eu a seguro pelos pés, ela me chuta e eu a solto, se arrasta por alguns metros até que eu invisto outra vez com o machado, que fica enfiado nas costas dela. Retiro o machado e o jogo de lado, ela uiva de dor, as lágrimas em seu rosto me faz pensar que minha tarefa é dura e que não é para qualquer um, é preciso ser forte. Começo a estrangula-la, ela esperneia e tenta arranhar meu rosto, mas não consegue, segundos depois parece chocada, acho que me reconheceu, o olhar de horror em seu rosto é a última coisa que faz em vida, ela morre me olhando nos olhos.

Meu Grand Finale está por vir, com uma faca faço um crucifixo no peito de cada um, assim mostro que receberam o perdão. Dou uma olhada para a cena, minha obra está pronto, sinto-me bem, sei que estou fazendo o que é certo.


Kledson W. Fausto

Foi assim que morri

Foi assim que morri

Acordei em um lugar estranho, escuro e úmido. Ouvi passos pesados se aproximando de mim, de forma rápida. Tentei levantar mas eu não conseguia. Estava acorrentada, com os pés e as mãos amarradas, e meus pulsos estavam doendo muito. Senti um gosto de sangue em minha boca, e uma tontura forte, que fazia minha cabeça latejar. Logo depois que abri os olhos, vi a coisa mais feia e assustadora que eu já tinha visto. Mesmo no local escuro, pude ver meu medo. Os olhos da criatura que eu avistei, eram vermelhos e a boca grande, com dentes grandes e afiados. Era uma aberração. A criatura me pegou nos braços e começou a sugar-me a pele, de forma que doía muito, e eu tentei gritar de dor, mas foi inútil. Logo depois, me arranhou com suas garras longas e afiadas, e vi meu sangue pingar no chão... senti vontade de vomitar, mas não consegui. Depois de sentir as mordidas fortes, e intensas, arrancando-me a pele... gritei alto. A dor era muito intensa, mas enfim, consegui gritar. Foi meu ultimo grito. Em menos de um minuto sentindo dores intensas tomarem meu corpo, eu desmaiei. Não acordei mais. Foi assim que morri.

Karine S.

Sem face

Sem face

Estava em meu quarto, como de costume, escrevendo e tocando meu violão quando aconteceu... já faz algum tempo, mas lembro-me como se fosse hoje. Já era tarde, pouco mais de 1h30 da madrugada, quando comecei a sentir um pouco de dor no lado direito de minha cabeça. No inicio, as dores eram suportáveis e passavam rapidamente... mas nessa noite, havia piorado cem vezes mais.

Era como se alguém tivesse colocado um peso de uma tonelada em cima do meu crânio. Resolvi então, tomar um comprimido que eu tinha guardado na cozinha. A dor piorava gradativamente e já eram 2h48. Tomei o comprimido e tentei dormir, mas não conseguia. Eu era jovem, tinha 22 anos, e desde os 19 essas dores apareceram e só pioravam.

A dor não passava, fui até o banheiro e lavei o rosto, mas senti meu corpo todo arder como fogo, e decidi tomar um banho de água bem fria. Liguei a torneira da banheira e deitei-me sentindo a água cair em minha pele. Permaneci ali, parada, por quase 30 minutos.

Foi quando ouvi um barulho estranho, vindo da cozinha. Mas eu morava sozinha, e fiquei com um pouco de medo de ir ver o que ocasionou o tal barulho, mesmo assim, decidi ir. Não consegui. Foi como se algo tivesse me puxando pra o fundo da banheira, com a intensão de me afogar. A água que antes era quase gelada, começou então a ferver. A água fervendo em minha pele, e a mesma “descolando” do meu corpo. A dor era insuportável. Tentei levantar, tentei desligar a torneira, tentei sair da banheira, mas continuava sendo puxada, dessa vez com mais força. A dor que antes era insuportável apenas em minha cabeça, agora tomava conta de todo o meu corpo. Então, desmaiei.

Antes de fechar os olhos, pude ver o vulto de um rosto... um rosto estranho, não tinha olhos, eram apenas dois buracos vazios... não tinha nariz, nem boca... não tinha face. Isso foi a ultima coisa que vi antes de morrer, ali, fervendo.

Karine S.

Tão diferente

Tão diferente

Agora, tudo é tão diferente: as cores, as ruas, a vida... Agora que ele chegou, as cores são vivas, e colorem todo o meu ser, desde a cabeça aos pés, de uma cor que denominei ser "amor". Agora que ele chegou, as ruas da minha vida não são mais sombrias, hoje tem luz em todos os lugares pra onde eu vou, denominei essa luz de "alegria". Agora que ele chegou, a vida sorriu pra mim, a vida agora é minha melhor amiga, e sei que com ele estarei sempre com essa sensação de ter a vida ao meu lado, é uma sensação de que a vida conspira ao meu favor... denominei essa sensação de "plenitude". Agora que ele chegou, sinto uma vontade imensa de ter um futuro ao lado dele, sinto vontade de ter uma família completa - filhos, cachorro, gato, papagaio - e denominei essa vontade de "paixão". Agora que ele está em mim, não sinto vontade de largar isso tudo, não sinto vontade de deixar isso por nada, e denominei essa vontade de "fidelidade". Agora que sou feliz, plena, amante e amada, sinto-me como se o mundo estivesse em minhas mãos, e de certa forma está... pois ele agora é meu mundo, e tenho ele pra mim.


Karine S.

Era uma vez...

Era uma vez....

Era uma vez, ela e a vida medíocre e normal que levava.
Era uma vez, ela, uma tristeza constante, e um riso falso.
Era uma vez, a vontade de ser livre, e a vontade de sorrir de verdade.
Era uma vez, a vontade de viver.

Era uma vez um garoto.
Um garoto normal para todos, mas não pra ela.
Um garoto sozinho, como ela.
Escritor, fofo, carinhoso... apaixonante!
Um garoto com medo e um coração partido...
Um garoto, cujo qual, não mereceu sentir a dor que sentiu.
Um garoto que se dizia ser "invisível" e "descartável...

Era uma vez, um belo dia! Em uma manhã sem vida, o céu mudou, bruscamente, de um tom de cinza, para um azul intenso e maravilhoso. O sol apareceu, e borboletas bateram as asas. Não era Primavera, mas ela viu flores por onde andou... Conheceu o garoto, que ela já conhecia... e ele a conheceu também.

Era uma vez, um abraço, o melhor que ela teve! E um olhar penetrante, e ao mesmo tempo recuado...
Era uma vez, um beijo, o primeiro de muitos.
Era uma vez, ele e ela juntos, pela primeira vez... era uma vez, a voz dele com medo de ser magoado outra vez, e a voz dela com medo de magoá-lo...
Era uma vez, um pedido seguido de um "sim". Era uma vez, os dois corações partidos ao meio, tornando-se um a metade do outro. Tornando-se um só!

Era uma vez, a solidão acabando, a tristeza indo embora e o medo dando lugar à esperança.
Era uma vez, a vontade de viver um para o outro...
Era uma vez, ele querendo fazê-la feliz, e ela querendo fazê-lo viver... era uma vez, os dois vivendo juntos, felizes e amantes.
Era uma vez, um "eu te amo", e esse não foi jogado fora... era uma vez, o "felizes para sempre".


Karine S.

Alice e maravilhas

Alice e maravilhas

Ainda sem acreditar no que acabara de acontecer, entro em casa e vou direto para meu quarto. Caio em minha cama, ainda em estado de êxtase, e relembro tudo o que havia acontecido, em mínimos detalhes, tentando acreditar... lembrei daquela voz, daquelas palavras, pela milésima vez em menos de uma hora. Não acredito no que acabei de ouvir, no que acabou de acontecer, e está apenas começando...

Me pergunto se ele já chegou em casa, afinal fazem pouco mais de uma hora que nos vimos e que tudo aconteceu... penso em ligar, mas logo desisto pois não quero parecer maníaca. Depois de quase trinta minutos ali deitada, meu celular tocou. É ele.



— Minha Alice?
— Oi, sou eu...
— Desculpa a demora pra te ligar, é que não quis te ligar assim que cheguei em casa, pra não parecer um maníaco, sabe? Espero que entenda...
— Ah, eu entendo sim!!! (risada tímida) então... agora você é mesmo meu?
— Sou sim, minha Alice. Sou seu.
— Então tá tudo bem, pois sou sua também.
— Que maravilha! Obrigado pelo "sim", Alice. Obrigado por ter me dado uma chance de te fazer feliz.
— Obrigada pelo "quer ser minha Alice?"... você não faz ideia do número de borboletas que bateram as asas dentro de mim.
— Linda! Eu faço ideia sim. Ei!
— Oi, meu namorado?!
— Eu te adoro, sabia?
— Eu também te adoro... (sorriso bobo)
— Vamos dormir agora, minha Alice?
— Vamos sim, meu namorado.
— Sonha comigo?
— Só se você sonhar comigo também...
— Ah, Alice!! Eu sempre sonhei com você.


A ficha caiu. Meu peito bate, em minha boca existe um sorriso bobo que teima em não se desfazer em nenhum minuto sequer. Um sorriso verdadeiramente feliz. Aos meus 22 anos, me sinto uma criança. Me sinto Alice no país das maravilhas. Eu, que sempre fui sozinha... que sempre chorei, eu que jurei não mais amar... estou amando. Sou Alice com maravilhas, com um céu azul em cima de mim, com borboletas em meu jardim, e também com um amor sem fim.

Karine S.

Mapas do acaso

Mapas do acaso

Na vida temos muitas escolhas, e os resultados dessas escolhas vão de algo insignificante até uma mudança drástica. O medo, preguiça ou qualquer outra coisa que impeça nossas escolhas deve ser vista com outros olhos, afinal, você pode acabar perdendo algo, simplesmente, irrefutavelmente, incrível e importante para sua felicidade, e eu passei muito por situações assim, vou contar-lhe, amigo leitor, uma dessas situações.

Foi em um fim de tarde, depois de um dia cansativo de trabalho, minha casa fica a pouco mais de vinte minutos do trabalho, mas uma chuva fina castigava o dia. Eu estava sem guarda chuva e por isso faria um caminho mais cansativo, frio e entediante.

Antes de ir para casa, fiquei encarando a chuva, tentando achar coragem para sair. Lúcia se aproximou de mim e chamou minha atenção.

– Tentando achar coragem para enfrentar a chuva?

– Você me conhece bem ou leu a minha mente?

Ela sorriu e se aproximou mais. Lúcia é, simplesmente, linda e inteligente, nossas conversas bem que poderiam durar para sempre, seu jeito meigo e carinhoso me conquistou logo na primeira semana que a conheci, ela sabe bem como ser sexy sem ser vulgar e faz isso naturalmente, o que a deixa mais irresistível ainda. Está sempre alegre, parece até uma criança, sempre com um sorriso no rosto, e faz isso pois é forte, guerreira e sabe bem a força que tem.

– Tudo bem Lucas, eu te dou uma carona no meu guarda chuva – Ela falou.

– Essa é uma proposta irrecusável, se você sorrir mais uma vez, vou ser obrigado a te levar até em casa – Ela sorriu e disse que me daria à honra de leva-la em casa, e isso provocou alguns sorrisos de ambas as partes.


Como sou maior que ela, eu fui segurando o guarda chuva, então ela agarrou o mesmo braço que levava nosso “teto”, segurou de uma forma que alertou minha timidez, fez com que eu me sentisse mais forte do que sou, me deu a sensação de que eu seria o seu protetor não importava qual seria o perigo. Nesse momento eu quis me declarar, mas como das outras inúmeras vezes eu me calei. Isso sempre acontece, sempre que penso em fazer isso, ou que tenho a chance de fazer, algo acaba me bloqueando, talvez medo, timidez, ou um sentimento que não sei como descrever, é apenas uma vontade de deixar pra lá e ver no que vai dar.

A conversa foi agradável como sempre, o frio do fim de tarde chuvoso vez com que ficássemos juntinhos, foi a única vez que desejei que aquele percurso fosse mais longo. Pouco antes de chegar, ela começou a falar sobre relacionamentos, pensei mais uma vez em me abrir, era a chance perfeita, e para matar qualquer dúvida, ela me disse que queria começar um romance, eu não consegui falar nada, fiquei somente prestando atenção em cada palavra. Ela era magnifica e eu, apenas um rascunho em uma folha qualquer.

Mas então tudo foi à lona, ela me falou de uma proposta de namoro, com um rapaz que ela conheceu meses atrás – Não sei o que fazer – Ela falou – O que você acha?

Não consegui responder, apenas dei de ombros, um silêncio insuportável permaneceu por alguns minutos, tempo suficiente para chegar até a porta da casa dela.

– Você quer o guarda chuva? – Ela falou.

– Não – Eu respondi – Está tudo bem.

Ela me olhou nos olhos e me perguntou se eu realmente estava bem, fiz que sim com a cabeça e nos despedimos.

Eu havia estragado tudo, por vezes tive minha chance, por vezes pude fazê-la pensar em mim como mais que um amigo, mas eu falhei, foi então que percebi que, na maioria das vezes, deixamos de tentar algo novo por causa de medo, eu pensei demais e deveria ter deixamos os meus sentimentos falarem mais alto que qualquer outra coisa, mas não fiz. Percebi também que quando não temos mais chances, também não temos mais medo, e conseguimos a certeza de que seria algo incrível.

Então parei de pensar, deixei tudo de lado e voltei correndo até a casa da Lúcia, ela abriu a porta e antes que pudesse falar alguma coisa, eu comecei:

– Eu estou apaixonado por você, e não posso mais esconder, sei que o amor é um salto no escuro, que um dia tudo vai acabar e seremos esquecidos, mas eu não quero me dar ao luxo de perder algo verdadeiro com você, não quero perder o simples prazer que é a vida com você, eu errei em ter demorado tanto tempo, mas eu te prometo que esse será o último e prometo te fazer feliz, me dê a chance de ser o homem mais feliz do mundo?

Alguns segundos se passaram, ela me olhava nos olhos, um segundo pareceu uma eternidade, então ela sorriu e respondeu – Eu te esperei por tanto tempo, mas valeu a pena, eu aceito.



Kledson W. Fausto

50 minutos com ela...

50 minutos com ela...

O dia surgiu como outro qualquer, acordei dez minutos antes do horário de costume, ou melhor, o despertador acordou-me, pois já acordara horas antes, depois de um sonho qualquer.

O dia prometera e vou explicar o que me esperava logo pela manhã, lembro-me como se fosse ontem, pois o sentimento ainda permanece em meu peito. Eu iria me encontrar com a minha amada, “minha pequena” vou chama-la assim, pois não quero citar nomes, essa é uma memoria e não uma declaração.

Hoje, com meus cabelos grisalhos, já não tenho mais a mesma vontade de conquistar a minha amada, ou melhor, a mulher que escolhi para ser a mãe dos meus filhos. Mesmo não sendo ela a minha pequena; na época, tinha apenas 16 anos e eu 17, já a via como mulher e me achava apenas um garoto ao seu lado. Naquela manhã, arrumei-me como das outras vezes, sem pensar muito no que poderia acontecer, pois não queria ficar nervoso, meu coração disparava sempre que parava para imaginar o que poderia acontecer; hoje, ele dispara só de lembrar como ela era.

Na época, eu ainda morava em Arapiraca, cidade onde nasci, só sai de lá já homem, para morar em Porto Alegre, cidade que hoje chamo de lar. O caminho até a escola era pequeno, dez minutos de bicicleta, ouvindo músicas românticas, o que virava motivos para as brincadeiras dos meus amigos. Chegando à praça da escola, esperei pela minha pequena, lembro que matei uma aula só para ficar com ela, mas como falei uma vez para um amigo: ”por ela eu perderia a semana ou ate mais”.

Um livro me acompanhava, com o objetivo de me distrair até minha pequena chegar, não funcionou muito bem, pois sempre que alguém passava meu coração disparava, respirava fundo e voltava a ler; em uma dessas disparadas do coração, ele me mostrou um amigo acompanhado de uma garota, sorri quando percebi que ele iria fazer o mesmo que eu, desejei sucesso para nós dois, que ao menos conseguíssemos um beijo das nossas amadas.

Alguns minutos depois, ela chegou, como esperado, meu coração tentou sair do peito, voltei a ler o livro até ela me ver, assim eu deixava dar o primeiro passo. Ela chegou ao meu lado, levantei-me e dei um abraço, quando percebi que tinha minha pequena em meus braços, apertei um pouco mais, sentindo assim seu corpo junto ao meu.

Sentamos e conversamos, no início foi difícil prestar atenção no que ela falava, pois sua voz, sorriso e olhos me deixaram um pouco bobo, ela era tão linda.

Hoje; pergunto-me se ela ainda tem toda aquela beleza. Um sorriso no canto da boca mostrava minha alegria, era a primeira vez que nos encontramos pessoalmente, entre uma frase e outra que saia de sua linda boca que agitava meu desejo de beijá-la, eu tentei me declarar, mas a declaração não saia da minha boca, até que consegui falar: “Eu te amo viu?” Essa foi a frase que saiu sem eu perceber, que tirou o peso do mundo das minhas costas e tirou um sorriso meio sem jeito da minha pequena.

Depois disso, o nervosismo se foi, comecei a falar, trocamos sorrisos, pensamentos e histórias, mas o que eu mais queria não aconteceu, eu só queria um beijo.

O tempo passou e nossos minutos acabaram, ou eu entrava para assistir o resto das aulas ou perderia o dia de aula, ela tinha seus planos, e por isso não teria tempo para mim; entrei , pedi um beijo antes disso, mas o pedido foi negado por uma causa nobre, ela era uma mulher de personalidade, nos despedimos com um abraço, com carinho, com um beijo na bochecha.

Desse dia em diante, o amor só aumentou, até acho que ela nunca acreditou que eu a amava tanto, mas até hoje trago esse sentimento. Mesmo sendo minha pequena, ela nunca foi minha, pois seu coração pertencia a outro, um homem que ela chamava de “namorado”. Por isso deixo nessa lembrança, uma pequena fração do meu amor, se você que está lendo essa memória escrita com tinta e sentimentos, tiver um amor, peço que fique com ele e seja feliz ao seu lado, faça o que eu não fui capaz de fazer.


Kledson W. Fausto

Prenda minha

Prenda minha

Não sei ao certo o que vou escrever, só quero falar, botar para fora tudo o que tenho aqui dentro do peito.

Falando assim todos pensarão que isso é um grande sentimento, mas quero deixar claro: é só o começo dele. Minha vida está de ponta-cabeça, uma coisa muito ruim aconteceu e eu consegui falar, talvez por questão de afinidade, somente para o meu melhor amigo.

Depois que isso aconteceu, eu não consegui mais escrever, não tenho problemas com criatividade, esse é o dom que Deus me deu, mas o meu problema é com o meu sentimental, se estou muito triste eu não sinto vontade de escrever, na verdade, não sinto vontade de fazer nada, apenas me deito e assisto a um filme ou a algo do tipo, algo que me distraia que não me faça pensar, desejo apenas “desligar” (temporariamente) os meus pensamentos.

Eu nunca escrevi assim, sem um motivo, sem uma finalidade apenas escrevendo por escrever. O motivo para escrever tudo isso se resume a uma única pessoa, mas não qualquer pessoa, é uma menina, aprendendo a ser mulher. Às vezes me pergunto o motivo que eu, já homem feito, me apaixonaria por uma garota que talvez não esteja convivendo com os mesmo desejos que eu, mas vou dizer o que me encanta. Encanta-me o jeito dela sorrir, está sempre alegre, com um sorriso inconfundível, encantador, conquistador; seus olhos são castanhos, um tom bem diferente, escuro, profundo, doce e meigo; “teus lábios são labirintos que atraem os meus instintos mais sacanas”; do seu rosto em geral eu diria que era angelical, como um belo quebra-cabeça onde tudo se encaixa. Embora sendo ainda um corpo de menina, já mostra traços de mulher.

Tua idade é 14, quatro anos a menos que eu, tua mentalidade já mostra uma incrível personalidade. Poesia era sua praia, área onde gosto de descansar, tuas palavras me abrem os olhos, me faz pensar, ir além e não querer voltar.

Não importa o meu estado emocional, ela sempre me faz rir, me faz querer levantar da cama e enfrentar essa violência transvestida que todos chamam de “vida”. O desejo de querer escreve algo para ela revela meu desejo, o desejo de querer ficar com ela, de tê-la ao meu lado não só como amiga, mas como companheira, como amante.

Prenda minha (ah, como quero que sejas minha!), deixo aqui esses versos para ti, não somente uma declaração, talvez uma despedida, uma carta suicidada ou apenas: “até mais minha amiga, nós vemos em uma dessas estradas da vida”. Entrego-te este primeiro e último beijo – uma prova do meu desejo – Para você, prenda minha.



Kledson W. Fausto